O ministério dele era promissor! Começou muito bem. As pessoas viajavam horas para ser instruídas pela Palavra de Deus. A multidão era crescente. O movimento que surgiu em torno de sua pregação não era fabricado, era genuíno, sem as amarras da religião institucional. Até mesmo gente improvável era convertida mediante a confrontação corajosa da Palavra. Porém... terminou mal. Sozinho, sem amigos, sem as multidões que por várias ocasiões disputavam lugares para ouvi-lo. Que pena!
Por que terminou assim? Dizem que é porque ele foi inflexível. Poderia ter dialogado mais, ter mais “jogo de cintura”. Não precisava concordar, mas poderia ter guardado para si suas próprias opiniões, ser mais tolerante!
Essa é a avaliação do ministério de João Batista por parte de algumas pessoas influenciadas pela forma de pensar contemporânea. Para estes, o ministério de sucesso é aquele que é “relevante” para a comunidade que está inserido e numericamente crescente, especialmente em grandes centros econômicos/urbanos.
Seria aquele que é laureado pelas lideranças civis locais, disputado pelas grandes editoras, onipresente nos púlpitos dos Congressos e, especialmente, jamais toca em temas polêmicos, ou tidos como tabus, afinal precisa de trânsito entre os diversos segmentos!
Entretanto, essa não foi a avaliação que Jesus fez do ministério de João Batista (Mt 11.7-19). Jesus disse que ele era um profeta. Mais, o profeta que havia sido profetizado no Antigo Testamento (Ml 3.1). Disse também que o Batista, até a ocasião do advento do Reino, era o maior entre os nascidos de mulher. Depois ainda afirmou que João era aquele que veio conforme a profecia a respeito de Elias (Mt 11.14; c.f Ml 4.5). Incrível! A avaliação que Jesus fez a respeito de João Batista foi diametralmente contrária à muitas avaliações ministeriais feitas em nossos dias. Por quê? O ponto é: João Batista cumpriu o que Deus o havia incumbido para fazer.
Aqui está a grande questão. O sucesso/fracasso no ministério pastoral não pode ser medido pelos padrões modernos de avaliação. Estes são influenciados pela mentalidade de mercado que pensa em termos de metas, orçamentos, estratégias, tendências e, isso, infelizmente, até mesmo na atuação de muitas igrejas (é exatamente o que ensina o movimento moderno de crescimento de igrejas).
O sucesso/fracasso no ministério pastoral deve ser medido por aquilo pelo qual ele foi chamado, pregar a Palavra com fidelidade (2 Tm 4.1-5). É para a fidelidade que aponta o interessante comentário de Erik Raymond:
“Aqui está a realidade: um pastor comum provavelmente não será estimado em uma sociedade que mede o sucesso em termos de tamanho da igreja, vendas de livros e influência nas mídias sociais. No entanto, a percepção bíblica do sucesso está ligada à fidelidade do pastor.” (Erik Raymond, in Michal Horton. Simplesmente Crente. Ed. Fiel. pg. 247.)
É curiosa a auto-avaliação que Paulo fez de seu ministério aos Efésios (At 20.17-38). Paulo diz que durante três anos serviu ao Senhor naquela cidade. Como teria sido esse serviço? Ele explica mais à frente. Acompanhe os verbos: anunciou (v. 20 e 27), ensinou (v.20), pregou (v.25) e aconselhou (v. 31). É exatamente isso que ele orienta o pastor Timóteo a fazer: “Prega a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e exorta com toda paciência e ensino”.
Meus queridos irmãos, quero encorajá-los a permanecer firmes no cumprimento da missão para a qual o Senhor nos chamou. Por favor, rejeitemos a pressão da mentalidade de mercado que nos faz pensar que é fracasso ministerial atuar por anos em uma igreja numericamente e economicamente pequena, nos subúrbios, ou interior, sem holofotes dos Congressos, e assédio das mídias. Permaneçamos fiéis às convicções bíblicas, mesmo que isso não nos dê trânsito entre os figurões denominacionais! O verdadeiro sucesso ministerial é avaliado por aquele que há de julgar os vivos e mortos na manifestação de Sua vinda e Reino (2 Tm 4.1).
Pr. Nelson Galvão
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