Você já percebeu quanto tempo passa por dia falando consigo mesma? Eu me considero uma pessoa de poucas palavras, mas, a julgar pelo turbilhão de pensamentos neste monólogo silencioso em que estou constantemente engajada, sou uma verdadeira tagarela. E o tipo de coisas que falo a mim mesma tem muita influência em como me sinto, como me comporto, o que acabo falando a outros e como reajo às situações do dia a dia.
Em um capítulo intitulado “A armadilha mental”, Nancy Wilson utiliza uma metáfora marcante para descrever os tipos de pensamentos com que normalmente nos ocupamos. Ela diz que nossa mente gosta de remexer na lixeira. É forte, mas creio que é verdade:
“Nossa mente vaga o dia todo e tem a tendência de ser facilmente levada para pensamentos infrutíferos. Mas, se deixados por conta própria, os pensamentos normalmente se afundam no lixo, escavando e desenterrando coisas carnais, mundanas, mentiras, imaginações vis, injustas, impuras, sem nenhum afeto, desagradáveis. A lixeira está sempre cheia dessas coisas: seus próprios pecados e falhas do passado, os pecados dos outros, amarguras, preocupações e concupiscências. E depois nos perguntamos o porquê de estarmos descontentes, preocupadas, sendo invejosas, cobiçosas, amarguradas, ansiosas e medrosas. Ora, entramos no depósito de lixo e nos alimentamos dessa sujeira o dia inteiro, semana após semana, ano após ano. Não é de espantar que temos a cabeça cheia de problemas.”1
Levadas por nosso coração pecaminoso, é exatamente isso o que fazemos. Recentemente (e frequentemente, admito), eu andava revirando minha própria lixeira. Estava contando a mim mesma uma história ruim, minimizando o meu pecado e aumentando as falhas alheias com uma lupa, me fazendo de vítima e remoendo mentiras. O resultado? Um humor terrível, um coração cheio de descontentamento e murmuração.
Mas graças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo! Pela fé nele, não somos mais escravas do pecado e não estamos mais entregues ao próprio coração enganoso. Temos sua Palavra, que nos ensina, repreende, corrige e instrui na justiça de Deus (2Tm 3.16). Precisamos de sua graça todos os dias e, para ter uma mente sadia, precisamos que “a palavra de Cristo habite ricamente em [nós]” (Cl 3.16).
Ao me dar conta de que tinha voltado à lixeira, lembrei-me da sugestão da autora: parar de ouvir o próprio coração e começar a pregar-lhe as verdades de Deus.2 Você costuma pregar a Palavra para si mesma?
Há um versículo muito precioso que descreve claramente o tipo de coisa que deveria ocupar a nossa mente:
“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4.8).
É nessas coisas que devemos pensar. E, você sabe, esse versículo vem imediatamente depois de um trecho muito conhecido que fala sobre ansiedade. Somos exortadas a não andar ansiosas, mas apresentar todos os nossos pedidos a Deus em oração e com ações de graças (Fp 4.6). Trata-se de substituir o monólogo ansioso por um diálogo com o Senhor. E o resultado será este: “e a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará o vosso coração e os vossos pensamentos em Cristo Jesus” (Fp 4.7). Então, no que se refere a guardar os nossos pensamentos, se estamos em Cristo Jesus, não estamos sozinhas. E isso torna possível praticar o versículo 8.
Gosto de considerá-lo como uma espécie de filtro pelo qual devo passar meus pensamentos. Se há algo recorrente roubando minha atenção, causando ansiedade ou descontentamento, começo a fazer o teste: Isso é verdadeiro? É honesto? É justo, puro, amável...?
Sinceramente, há tão poucas coisas que passam pelo filtro! Muitas frases que digo a mim mesma, quando avaliadas à luz da Palavra de Deus, não são completamente verdadeiras. Outras podem ser verdadeiras, mas não são amáveis de forma alguma. Podem ser justas, mas não dignas de louvor. De boa fama? Certas coisas que pensamos, jamais diríamos em voz alta, não é mesmo?
E isso me faz pensar que talvez só haja uma coisa totalmente verdadeira, honesta, justa, pura, amável, de boa fama, virtuosa e digna de louvor: a própria Palavra de Deus.
E, de fato, existe algo melhor em que pensar? Há história mais excelente para contar a mim mesma, uma mensagem superior para pregar ao meu próprio coração? Meditar na Palavra é a forma de conduzir meus pensamentos para coisas melhores. É parar de remexer na lixeira e sentar à mesa para um banquete. É me alimentar do que realmente sacia a alma.
Sobre essa disciplina de meditar na Palavra, li algo que me chamou muito a atenção:
“A falta da meditação é a principal razão de tantos cristãos professos, apesar da exposição ao mais excelente ensino, ainda permanecerem ignorantes, instáveis e infrutíferos; ‘que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade’. A instrução flui sobre eles de todos os lados; mas seus corações e mentes são como peneiras, que tudo escoa o que nelas é despejado. As impressões que a verdade deixa em suas mentes são tão temporárias quanto as palavras escritas na areia da praia, as quais a próxima onda desmancha para sempre. Mas a meditação imprime a verdade profundamente na consciência, e a entalha nas tábuas do ‘homem interior’, ‘como se fosse com a ponta de um diamante ou um raio laser’. Assim ela se torna incorporada à alma; e modela como se fosse uma parte dela; e está sempre presente, para regular as afeições do coração e controlar e guiar todos os seus movimentos.”3
O versículo citado está em 2Timóteo 3. É uma passagem que me desperta muito temor, pois fala diretamente de mulheres – mulheres que, aparentemente, faziam parte da igreja de Éfeso: “... mulheres tolas carregadas de pecados, dominadas por várias paixões; que estão sempre aprendendo, mas nunca podem chegar ao pleno conhecimento da verdade” (2Tm 3.6,7). Estar dentro da igreja, ouvindo a pregação da Palavra domingo após domingo, não é garantia de crescimento e maturidade – nem mesmo de conversão genuína. Se não for a graça de Deus, dando-nos fé para crer em Jesus, transformando nosso coração e renovando nossa mente por meio da Palavra, podemos permanecer tolas. Senhor, tem misericórdia e abre nossos olhos para a verdade!
Meditar na Palavra é relembrar o que ouvi ou li, pensar sobre o que aprendi, voluntariamente trazer à mente as verdades de Deus, memorizá-las e ficar recordando. É como o hábito de alguns animais de ruminar o alimento para tirar dele o máximo proveito. E o que é mais especial é que não estamos sozinhas nessa tarefa, entregues aos nossos próprios pensamentos; o Espírito Santo que habita em nós – cristãos – nos ensina e esclarece.
Louvo a Deus porque, em nossa igreja, temos recebido o mais excelente ensino. Não tem faltado exposição fiel das Escrituras, um verdadeiro banquete à nossa disposição. E temos sido incentivadas a meditar no que ouvimos, por exemplo:
No pequeno grupo de mulheres, revisitamos a pregação de domingo, buscando aplicações específicas para a nossa realidade.
No culto de quarta-feira, temos oportunidade de comentar o que aprendemos no sermão e/ou em nosso tempo diário na Palavra.
Temos sido encorajadas a conversar sobre as pregações em casa, com a família.
Somos incentivadas a nos preparar previamente para a mensagem de domingo, lendo o texto/livro que será exposto.
Na reunião mensal de mulheres, temos tido o privilégio de meditar sobre os atributos de Deus e sobre como esse conhecimento muda a forma como vivemos.
Nos discipulados, estudamos a Palavra e compartilhamos com uma irmã as alegrias e lutas da caminhada cristã.
E isso sem falar em nosso próprio tempo devocional, estudando a Bíblia, e em quantos bons livros temos à disposição para nosso crescimento.
Que a Palavra de Deus continue sendo o centro de nossas conversas. E que, quando eu estiver sozinha com meus pensamentos, escolha pregar o evangelho a mim mesma, meditando em tudo o que é verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, de boa fama, excelente e digno de louvor.
Priscila Michel Porcher
Priscila é esposa do Marzo e mãe do João Victor e da Laila. Membro da Primeira Igreja Batista em Indaiatuba, onde ama servir ao Senhor junto às mulheres e na turma de Juniores. É formada em Letras, trabalha com revisão de Português e escreveu Meninos como você, da Editora Peregrino.
Comments