top of page
Buscar
indaiatubapibi

O místico povo brasileiro


Confira também em aúdio:



Somos um povo profundamente místico. Essa é uma das heranças deixadas pelos africanos, indígenas e europeus (nesse combo devemos considerar o tipo de catolicismo que foi trazido pelos portugueses).

 

Camara Cascudo foi um antropólogo que dedicou sua vida ao estudo da cultura brasileira. Em seu livro “Superstição no Brasil”, ele procurou descrever a teologia popular impregnada no dia a dia do brasileiro, na crença e prática de promessas, procissões, profecias, superstições, etc. Na descrição das inumeráveis superstições que compõe o folclore brasileiro, ele menciona a mística envolvida em alguns jogos infantis, a superstição da vassoura, da luz trêmula, do apontar o dedo, deixar o copo vazio, do aperto de mão, passar debaixo da escada, etc.

 

Dentro desse escopo, eu acho curiosíssima a descrição das profecias na História do Brasil. Camara Cascudo afirma que na Biblioteca Nacional e na de Ajuda em Lisboa, “dois códices reúnem mais de duzentas profecias até 1809”[1]. O antropólogo menciona também uma coleção do Padre José Fernandes Lima, de profecias que vão desde D. João I de Portugal até D. Pedro I. Além dessas, no Arraial de Canudos, foram encontrados “incontáveis cadernos de profecias, algumas do ‘Bom Jesus Conselheiro’”, o profeta de Canudos, conforme descrito em “Os Sertões”, de Euclides da Cunha.

 

Uma dessas profecias me chamou a atenção. Trata-se da profecia de Frei Serafim de Catania, proferida entre 1850 e 1880. Dentre suas previsões estava o estabelecimento da República, a invenção do avião e o advento do feminismo. Dentre tantas outras, destaca-se uma: “Nossa Senhora seria vista por olhos brasileiros”[2].

 

E é muito interessante perceber o status dessas profecias. Cascudo diz: “Pelo interior do Brasil as profecias, ainda vivas em espécie e imprecisas nas formas comunicantes, eram dogmas de Fé. Os vigários não ousavam negar-lhes autoridade veneranda, possibilidade da informação inspirada, e razoável percentagem ortodoxa [...] as profecias eram um Evangelho oculto, indiscutível e autêntico, escrito no anonimato das inspirações sucessivas, ávidas da presença divina. As alusões estranhas ficavam asseguradas na frase usual: ‘- Está nas Profecias!’ Inútil discutir.”[3]

 

É esse contexto cultural brasileiro que explica a superlotação de inúmeras igrejas evangélicas que exploram a mística popular afeita a visões, revelações, sonhos, profecias, tudo isso em busca de curas, emprego, resolução de conflitos familiares, prosperidade financeira.

 

A partir desse contexto, podemos entender que o Brasil é um celeiro de falsos profetas como um sujeito de chapéu que vende feijão ungido, ou o bispo que vende terreno no céu, ou o apóstolo que se veste de pano de saco.

 

Todo esse caldeirão místico me faz lembrar da orientação de Paulo aos Gálatas. O Apóstolo escreveu esta carta para alertar seus leitores de falsos mestres que os incitavam ao abandono do verdadeiro Evangelho. Em Gl 1.8, ele diz:

 

Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregue um evangelho diferente do que já vos pregamos, seja maldito.”

 

Veja que Paulo ensinou para os Gálatas que a autoridade máxima em assuntos de fé e prática não era ele, nem mesmo um anjo do céu; ou seja, nem mesmo uma experiência mística.  A autoridade máxima é o Evangelho de Cristo, conforme já havia sido ensinado e chegou a nós pelas Escrituras.

 

Isso significa que a Palavra de Deus tem a palavra final sobre tudo: casamento, criação de filhos, trabalho, experiências místicas.

 

Sendo assim, precisamos nos perguntar: temos dado ouvidos a que autoridade? Nós evangélicos achamos um absurdo a autoridade que a Igreja Católica assevera para si, até mesmo acima das Escrituras. Arvoramos com muito orgulho a bandeira do SOLA SCRIPTURA. Mas... será que não temos tido a mesma atitude que eles?

 

Por exemplo, a Bíblia é muito clara ao afirmar que um cristão não deve namorar/casar com alguém não crente. Mas, e se você teve um sonho, ou ouviu uma profecia, ou teve uma sensação diferente na hora do louvor da sua igreja, experiências estas que te levam a entender que Deus quer que você se case com aquela pessoa? O que você faz? Bem, se você respondeu que casa, você está dizendo que até respeita a Bíblia, mas, na verdade, a autoridade final está na sua experiência mística e não nas Escrituras.

 

Agora, aplique esse exemplo a inúmeras outras questões como: aborto, sexo antes do casamento, divórcio, homossexualidade, pastoras, cultos show, etc.

 

A Bíblia é clara nessas questões. Mas, infelizmente muitos preferem seguir seus próprios pensamentos e desejos, que são balizados por suas experiências místicas.

 

Estejamos alertas para o nosso tempo! Essas experiências têm uma áurea de divino, nos impressionam e arrepiam, mas se não estão de acordo com as Escrituras e não nos levam aos pés do único Rei e Redentor, Jesus Cristo, na verdade são um falso evangelho, e todos aqueles que as ensinam, embora com uma aparência de piedade, estão sob maldição.

 

pr. Nelson Galvão


Referências


[1] Camara Cascudo. Superstição no Brasil. Ed. Global. p.455.

[2] Ibid. p. 458

[3] Ibid. p. 458, 459

59 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Post: Blog2 Post
bottom of page