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O legalismo é um grande elemento de oposição ao verdadeiro Evangelho. Ele se contrapôs a Jesus e aos Apóstolos. Em nossos dias ele continua em operação e faz muito estrago. Mas, o que é o legalismo e como ele atua? O relato de Atos 11 pode nos ajudar a responder a essa pergunta.
Imagine comigo a cena. Pedro chega entusiasmado em Jerusalém. Ele conta aos irmãos tudo o que Deus havia feito em Cesaréia; como Deus o levara a esta cidade para pregar o Evangelho a Cornélio e os de sua família; como o Espírito Santo havia descido sobre aqueles que creram no Evangelho.
Qual é a reação esperada diante do relato cheio de entusiasmo? Festa, louvor, gratidão! Porém, não foi bem essa a reação dos ouvintes. Vejamos:
“E quando Pedro subiu a Jerusalém, os que eram da circuncisão discutiam com ele, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles.” (At 11.2,3).
Incrível! A reação deles foi de contrariedade e decorrente discussão contra Pedro.
Por quê? Por que essa reação tão imprópria dos ouvintes? Lucas nos da a informação: eles eram “os da circuncisão”. O que isso significa? Estas pessoas eram aquelas que acreditavam que para a salvação é necessário não somente crer em Jesus, mas também cumprir a Lei de Moisés (como efetuar a circuncisão, guardar o sábado, etc). Em outras palavras, estes eram os legalistas!
O legalismo é a crença de que pode-se obter o favor de Deus por meio das obras. Ele nasce da arrogância de nosso coração que nos faz orar: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho” (Lc 18.11).
Foi esse legalismo que o Apóstolo Paulo combateu veementemente em suas cartas aos Gálatas, Romanos e Efésios. Afirmações categóricas do Apóstolo nessas cartas são estandartes contra o legalismo. Veja:
-Rm 3.28: “O homem é justificado pela fé sem as obras da lei”.
-Gl 2.16: “O homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo”.
-Ef 2.8: “Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus”.
Em At 11, Pedro contrapôs àqueles legalistas irritados relatando tudo o que havia acontecido, tendo como ponto central de sua argumentação a seguinte tese: “Quem era eu para me opor a Deus?” (At 11.17).
Sim, o legalismo é oposição contra Deus, o que é curioso, porque ele tem o discurso de agradar a Deus!
Entretanto, quando acrescentamos algo como exigência para a salvação, que não somente a fé em Jesus Cristo, somos inimigos de Deus. Quando afirmamos que não basta tão somente crer em Jesus, mas para sermos aceitos por Deus devemos também guardar o sábado, dar o dízimo, vestir determinadas roupas, fazer penitências, repetir determinadas orações; na verdade, ao fazer isso, desprezamos a obra redentora de Jesus Cristo.
Sim, mesmo professamente evangélicos (cujo princípio basilar é a justificação pela fé), também, em muitas ocasiões, por conta do legalismo, podemos nos opor a Deus e deixar de nos alegrar com a obra graciosa de Deus na vida das pessoas. Por exemplo:
● Temos a tentação de sacralizar os programas e culto da igreja de nossa infância e querer impor à de hoje.
● Temos a tentação de sacralizar determinadas roupas que os pastores devem vestir;
● Temos a tentação de dar títulos aos líderes para distingui-los dos demais (apóstolo, bispo, etc).
● Temos a tentação de sacralizar as orações dos pastores, tendo-as como mais “poderosas”;
● Temos a tentação de sacralizar os Hinos do Cantor Cristão;
● Temos a tentação de sacralizar os programas de nossa infância como “Embaixadores do Rei” e “Mensageiras do Rei”;
● Temos a tentação de sacralizar determinadas roupas e estilos dos Jovens, e deixar de nos alegrar com a transformação deles pelo poder do Evangelho.
Entendo que vivemos um tempo de grande secularização, e tenho pregado contra isso. É profundamente danoso o discurso da graça barata que é empregado em muitas igrejas.
Todavia, precisamos lembrar que o legalismo também é danoso. Ele pode nos fazer perder de vista o verdadeiro Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sendo assim, precisamos ter sempre em mente a pergunta: “eu tenho me alegrado com as evidências da operação graciosa de Deus na vida das pessoas, ou tenho me fechado em murmuração?
pr. Nelson Galvão
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