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O que você vai deixar para os seus filhos? Me deixa adivinhar: talvez você esteja muito dedicado a deixar uma casa, ou mesmo uma boa faculdade para eles. Ótimo! Nada de errado. Porém, hoje eu gostaria de chamar a sua atenção para algo muito mais precioso que essas coisas e que nem sempre estamos tão dedicados.
No livro de Provérbios vemos o clamor de um pai a seu filho: “Filho meu”. Esse chamado é insistentemente repetido, ao ponto de marcar as sessões literárias do livro.
O cap. 4 começa com um desses chamados. Ele diz:
“Filhos, ouvi a instrução do pai e ficai atentos para que alcanceis o entendimento. Não abandoneis o meu ensino, pois eu vos ofereço boa doutrina.” (Pv 4.1,2).
Veja que o chamado diz respeito à instrução. O filho deveria ouvir a instrução do pai. Que instrução é essa? É aquela aprendida na escola? Não! Ele diz: “eu ofereço boa doutrina”.
Perceba, o conteúdo do ensino do pai era a “boa doutrina”. O que é a boa doutrina? É a sabedoria. A sabedoria é a aplicação prática, no dia a dia, do conhecimento da vontade de Deus revelada através das Escrituras. É por isso que o sábio afirma que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 1.7). Quem teme/reverencia ao Senhor, se importa com a vontade dEle, e, por isso, a busca e a aplica nas diferentes circunstâncias da vida.
Existe ainda um detalhe curioso nesse cap. 4 de Provérbios. No v. 3-6, o sábio diz o seguinte:
“3Quando eu era criança, vivendo na companhia de meu pai, o único na estima de minha mãe, 4ele me ensinava e dizia: Que o teu coração conserve as minhas palavras; guarda os meus mandamentos para que tenhas vida. 5Adquire a sabedoria e o entendimento; não te esqueças nem te desvies das palavras da minha boca. 6Não abandones a sabedoria, e ela te guardará; ama-a, e ela te protegerá.” (Pv 4.1-6).
Veja que o sábio lembra o fato de que ele mesmo foi instruído no caminho da sabedoria. A memória aqui é preciosa. Ele lembra que o seu pai lhe ensinava a conservar, guardar, adquirir, não se esquecer, não se desviar, não abandonar, e amar a sabedoria. A promessa é que isso traria vida e segurança.
Agora, o filho havia crescido e amadurecido. Agora, ele ensinava ao seu filho o que aprendeu do pai, o caminho da sabedoria. Aqui está o legado, o caminho da sabedoria.
Você já parou para pensar no que tem ensinado aos seus filhos? Nós ensinamos muitas coisas a eles, não é mesmo? Ensinamos a correr, a andar de bicicleta, a jogar futebol, a lição de matemática, a como comportar-se à mesa, etc.
Além disso, nem sempre somos nós mesmos que ensinamos. Já pensou em quanto tempo os nossos filhos ficam na escola? Considerando que existe um número cada vez maior de pais que deixam seus filhos em creches desde os primeiros meses de vida, essas crianças veem os pais em momentos raros do dia, até que completam 18 anos. Dessa forma, essas crianças são educadas pelo Estado. E o Estado lhes educa ao amor pelo Estado.
Mesmo sendo cristãos, nem sempre paramos para pensar que existe um legado que somos responsáveis a transmitir a nossos filhos, de maneira que eles transmitam aos seus filhos. Esse legado é o caminho da sabedoria, a Palavra de Deus.
O que Salomão diz em Provérbios é o que foi instruído em Deuteronômio:
“5 Amarás o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. 6 E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; 7 e as ensinarás a teus filhos e delas falarás sentado em casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te.” (Dt 6.5-7).
Perceba que o chamado começa com o amor a Deus. Uma vez que amamos ao Senhor, esse amor deve ser transmitido à próxima geração.
Meu querido, talvez você não tenha tido quem tenha lhe ensinado isso. Mas não perpetue essa herança. Uma vez que aprendemos o amor/temor ao Senhor por meio de Jesus Cristo, que através de Sua morte e ressurreição transformou nosso coração de pedra em um coração que pulsa por Deus, transmitamos esse legado aos nossos filhos. Portanto, não terceirize. A responsabilidade é sua.
E como transmitimos esse legado? Uma vez que amamos a Deus, amamos a Sua Palavra, amamos crescer no conhecimento de Sua Palavra e amamos ensiná-la.
Esse ensino se dá intencionalmente de duas formas: de maneira formal (com horários e locais em nossa família e igreja); e de maneira informal (conselhos a partir de situações não planejadas, através de conversas que surgem em passeios, problemas que aparecem, perguntas a partir de dúvidas, etc).
Porém, sobretudo, ensinamos através do exemplo. Mostramos em nós o amor ao Senhor. Mostramos esse amor em atitudes no dia a dia. Acho curioso que nós pais desejemos que nossos filhos amem a Deus, mas ao mesmo tempo, nem sempre esse amor é visto em nós. Por exemplo, alguns pais, no domingo pela manhã, não têm problema algum em deixar o estudo das Escrituras na Igreja, para ir a um passeio no parque. Não seria surpresa que esses filhos, ao crescerem, venham a amar mais ao parque do que a Deus, não é mesmo?
Acredito que essa é uma das questões mais importantes de todos os tempos e não é diferente agora. Que legado temos deixado para os nossos filhos?
pr. Nelson Galvão
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