Na série “Lições do sofrimento de um homem correto”, já vimos que: (1) Uma vida correta não implica em ausência de sofrimentos; (2) O sofrimento é restringido pela soberania de Deus; (3) a adoração a Deus independe das circunstâncias; (4) nem sempre sabemos a razão dos nossos sofrimentos.
Hoje veremos que Deus, em Sua soberania, usa o sofrimento de maneira pedagógica.
A fala do 4º amigo de Jó, Eliú (Jó 36 e 37), se mostrou diferente da explicação oferecida pelos três amigos. Eliú encorajou Jó a lembrar-se de que Deus é soberano e imensurável:
“Quanto ao Todo-poderoso, não conseguimos compreendê-lo; Ele é grande em poder e justiça, pleno de retidão. Ele não oprimiria ninguém.” (Jó 37.23).
É curioso que Deus repreendeu os três amigos de Jó, mas não a Eliú. Isso porque Eliú estava correto. Em meios as aflições, das quais não conseguimos enxergar bem suas razões, precisamos nos lembrar de que Deus tem todas as coisas sob o Seu controle e, de alguma forma, Ele conduzirá esse sofrimento para o nosso bem.
É por isso que Jó, depois de ouvir a Deus, chegou a conclusão: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42: 5).
É exatamente isso que Paulo escreveu aos Romanos:
“Sabemos que Deus faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam, dos que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8.28)
Pedro também mencionou essa realidade em sua 1ª carta:
“Nisso exultais, ainda que agora sejais necessariamente afligidos por várias provações por um pouco de tempo, para que a comprovação da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo.” (1 Pe 1.6,7)
Veja que Pedro relaciona-nos com o ouro. Assim como o ouro é purificado pelo fogo, assim nós somos purificados pelas aflições, de maneira que Cristo é glorificado.
Agostinho de Hipona disse o seguinte:
“A semelhança dos sofrimentos não elimina a diferença entre os sofredores e a identidade dos tormentos não estabelece identidade alguma do vício e da virtude. Sob a ação da mesma chama, o ouro brilha, fumega a palha; o mesmo debulhador quebra a espiga de trigo e separa o grão; azeite e lia não se misturam de jeito nenhum, embora espremidos no mesmo lagar. Assim como o mesmo cadinho testa, purifica e funde no amor as almas virtuosas, e dana, extermina e devasta as ímpias, assim também, na mesma aflição, os maus protestam e blasfemam contra Deus e os bons rezam e o bendizem. Não interessa tanto o que a gente sofre, mas como sofre. Remexidos de igual maneira, o lodo exala horrível mau cheiro, o unguento, suave perfume.”[1]
O fato é que precisamos passar por certas ocasiões que sem as quais o perfume de Cristo não seria exalado. Somente através dessas circunstâncias é que amadurecemos, temos a possibilidade de nos parecer mais com o Mestre e assim, exalarmos um agradável perfume. As aflições são a sala de aula do Pai, para nos fazer mais parecidos com Seu Filho.
Dessa forma, quero encorajar você a confiar no soberano cuidado do Pai, mesmo em situações de aflição em que não sabe exatamente o motivo.
Pr. Nelson Galvão
Referências
[1]Agostinho de Hipona. A cidade de Deus: obra completa. Ed. Kindle. pos. 1483
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