Outro dia visitei uma igreja e fiquei muito curioso e impressionado com a “logística” do espaço e a ordem do culto. Assim que cheguei, os manobristas estavam prontos para estacionar meu carro; em seguida os recepcionistas estavam em prontidão para me orientar onde eu deveria ir. Na entrada do templo, havia um balcão com inúmeros computadores e pessoas com crachás manuseando-os. Em frente de cada computador havia cartazes indicativos. Como havia fila, tomei o cuidado de escolher para onde me dirigir, escolhi a opção “visitante”, em detrimento de outras opções como: “pequeno grupo”, “membro”, “culto infantil”, “culto em inglês”.
Uma vez no auditório percebi que o culto tinha uma disposição clara e evidentemente organizada para que o ouvinte aceitasse o apelo do dia e marcasse no cupom, estrategicamente posicionado na cadeira à frente, opções como: “minha decisão de hoje”, “batismo”, “aceitar a Jesus”.
Bem-vindo ao mundo da chamada “Igreja Emergente”! Esse é aquele novo segmento de igrejas evangélicas voltado para o público jovem de classe média, cujo as igrejas mais se parecem com shoppings centers, teatros/cinemas (algumas até mesmo pintadas de preto) e claro, abusam da música contemporânea, que é cuidadosamente oferecida para agradar a um público muito específico.
Por conta da influência norte-americana, esse modelo de igreja tem crescido no Brasil. O nome “emergente” se refere à metáfora de uma planta viva que emerge de uma outra morta. A metáfora surgiu a partir de uma forte crítica às igrejas ditas como “tradicionais, históricas”. Essas seriam a planta morta!
Um de seus principais propositores é Spencer Burke, ex-pastor da Mariners Church-EUA. Ele critica fortemente o cristianismo tradicional, o chamando de “Macarthismo espiritual”.
Um outro proponente da Igreja Emergente é Dave Tomlinson. Ele saiu da Brethren Church e fundou uma comunidade cujos encontros são em formato de pubs. As pessoas podem beber e fumar enquanto participam da adoração e incluem elementos como velas, símbolos cristãos e música ambiente. Tudo voltado para atrair o público que ele mesmo denomina de “pós-modernista”.
Outro proeminente líder desse movimento de igrejas emergentes é Brian McLaren. Brian foi alistado pela revista Time como um dos 25 líderes mais influentes do mundo. Ele foi pastor da Cedar Ridge Community Church e escreveu inúmeros livros, como: “A Igreja do outro lado” (publicado no Brasil pela Editora Palavra, 2004). A cosmovisão de Bryan é bem resumida em suas palavras:
“Porque eu sou missional, evangélico, pós-protestante, liberal/conservador, místico/poético, bíblico, carismático/contemplativo, fundamentalista/calvinista, anabatista/anglicano, metodista, católico, ecológico, encarnacional, deprimido e ainda esperançoso, emergente e um cristão ainda em formação” [1].
É curioso notar que a crítica dessas igrejas emergentes ao modelo dito “conservador”, se fundamenta na ideia de que este modelo “tradicional” teria sido formulado na era modernista, uma época que já teria dado lugar a um novo tempo, o “pós-modernismo”.
Sendo assim, a grande questão proposta pelas igrejas emergentes é que a Igreja deve se adequar à mentalidade contemporânea. Daí segue-se que escolhem a fluidez epistemológica (ao invés do rigor da objetividade hermenêutica das Escrituras), a pregação como experiencia dialogal existencial (o pregador se apresenta mais como um stand-up do que um expositor das Escrituras), o show (no lugar do culto), o consumo de música contemporânea e experiências sensoriais (no lugar de relações interpessoais realmente cristãs). Tudo isso para atrair a forma de pensar e sentir dos nossos dias!
Com isso, não estou aqui sacralizando o modelo conservador. Ao contrário, acredito que este também deve ser submetido a avaliação.
O meu ponto é que tanto o modelo conservador, quanto o modelo emergente devem ser submetidos à autoridade das Escrituras. O problema da crítica das Igrejas Emergentes ao modelo conservador é que ele é de natureza meramente cultural e não oriunda de uma reflexão profundamente bíblica.
Fazendo assim, as igrejas emergentes terminam assumindo e legitimando a roupagem atual da cultura Ocidental. Se apegam a uma mentalidade que é facilmente perceptível quando observamos a linguagem usada, que é muito parecida com o mundo mercadológico, sendo recorrentes termos como: visão estratégica, metas, objetivo, otimização de pessoal, valorização da liderança, mérito.
E a partir disso, em muitas igrejas o “pastor” se tornou um gestor, um “CEO”; a ovelha é mais um cliente que se transformou em dado estatístico (com até número de senha!). Por fim, a mensagem do Evangelho foi esvaziada para tornar-se um produto a ser consumido.
Uma vez que tristemente as igrejas emergentes procuraram adequar-se à mentalidade “pós-moderna”, com vistas ao crescimento numérico, perderam de vista o verdadeiro Evangelho.
Precisamos refletir sinceramente e biblicamente se é esse o modelo que queremos para a nossa igreja; ou melhor, que o Senhor quer para a Sua Igreja.
Pr. Nelson Galvão
Referência
[1] MCLAREN, BRIAN. Uma ortodoxia generosa. Ed. Palavra
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