A Bíblia está repleta de registros de eventos históricos extraordinários. No Êxodo, o mar se abriu para que o povo passasse; na Conquista de Canaã, o sol parou; no Exílio, os amigos de Daniel andaram em meio ao fogo sem se queimar. Esses e tantos outros eventos nos mostram a intervenção extraordinária de Deus na história do Seu povo, a fim de que Seu soberano propósito fosse cumprido.
Entretanto, na Bíblia também existem registros de histórias que de tão ordinários/comuns, podem nos passar desapercebidos. O livro de Rute é uma dessas histórias. Na narrativa dessa família do antigo Israel não existe a aparição de anjos, não há sonhos ou visões, não vemos a água do rio se transformar em sangue. Não obstante, vemos que Deus conduz todos os eventos de maneira a que a história alcança o Seu propósito. Veja: (1) Noemi e Rute chegaram no início da colheita da cevada (1.22). Sendo que na lei de Moisés constava a respeito do amparo a estrangeiros e viúvas por meio da colheita (Dt 24.19); (2) Noemi tinha um parente rico, Boaz, e Rute terminou indo colher em sua terra. Aqui o narrador de maneira sutil nos indica como isso aconteceu: “por coincidência” (Rt 2.3). Na perspectiva de Rute e Noemi, foi o acaso, mas bem sabemos quem está por detrás desses acasos, a providência do Senhor.
A providência é o ato soberano de Deus em conduzir os eventos da história (extraordinários ou ordinários) de maneira que Seus propósitos sejam cumpridos. Esses eventos “comuns” da história de Noemi e Rute culminam no rei Davi (Rt 4.22). E deste, por sua vez, vem o Senhor Jesus (Mt 1.1).
Isso me faz pensar que somos pais/mães, filhos, profissionais liberais, professores, funcionários públicos. Que “extraordinário” tem nisso? Não existe nada mais ordinário/comum do que pegar onibus todo dia para ir ao trabalho, trocar a frauda do bebê, fazer as mesmas coisas todos os dias!
Diante disso, temos a tendência de viver em frustração; afinal de contas, não desbravamos as savanas da África e evangelizamos os nativos, como fez David Livingstone, ou sacudimos a China como fez Hudson Taylor, ou até mesmo dedicamos a vida para a Índia, como fez William Carey.
Todavia, precisamos nos lembrar que Deus age também por meio do ordinário/comum. Pense em como o Evangelho chegou a você. Eu recebi o Evangelho aos 8 anos de idade por meio da aula de uma professora de EBD. Tem coisa mais comum que uma aula de EBD?! Deus também manifesta a Sua glória por meio do “comum” do dia-a-dia.
Sendo assim, esteja contente com o “comum” que Deus deu a você. Seja grato pela forma como Deus tem usado você em seu trabalho “comum”, em seu casamento “comum”, em seus filhos “comuns”. Louve ao Senhor pela forma como Ele tem conduzido a sua história, de maneira que o propósito dEle seja cumprido.
pr. Nelson Galvão
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