“Nas audiências subsequentes, fui acusado de manter assembleias e reuniões ilegais e de não me conformar ao culto nacional da Igreja da Inglaterra. Depois de alguma discussão com os oficiais da lei, eles consideraram minha conduta honesta para com eles como uma confissão, de acordo com o que chamavam, da acusação pronunciada contra mim e sentenciaram-me à prisão perpétua porque recusei conformar-me. Sendo deixado nas mãos do carcereiro, fui levado de casa à prisão, onde tenho estado por doze anos completos. Durante todo este tempo esperei ver o que Deus permitiria que esses homens fariam comigo. Pela graça, tenho continuado nestas circunstâncias com muito contentamento, embora tenha enfrentado muita peleja e provação vindas do Senhor, de Satanás e de minha própria corrupção.”[1]
Este é o depoimento de Jonh Bunyan (1628-1688) a respeito do período que ficou preso. Bunyan foi um pregador puritano batista, nascido na Inglaterra. Viveu na época imediatamente após a revolução gloriosa, de Oliver Crown, quando o Rei Carlos II proibiu o culto de qualquer religião que não fosse a Anglicana. Por pregar o Evangelho, Bunyan ficou preso por 12 anos. Durante sua prisão escreveu o livro que se tornou um clássico da literatura cristã: “O peregrino”. Além deste, escreveu muitos outros como “Graça abundante ao principal dos pecadores” e “As guerras da famosa cidade de Almahumana”.
Você já passou alguma situação difícil por conta do Evangelho? Talvez uma situação na Universidade, ou até mesmo entre familiares não crentes, quem sabe entre amigos, ou no trabalho. Como você reage diante dos sofrimentos, dificuldades, especialmente, aqueles provocados pelo Evangelho?
Em nossa igreja temos estudados a carta de Filipenses. Ela foi escrita por alguém que, assim como Bunyan, também esteve preso por causa do Evangelho, o apóstolo Paulo. Em 61 d.C, Paulo estava preso em Roma (At 28). Esta era a época do imperador Nero. Na prisão, Paulo escreveu a carta aos Filipenses, uma das Igrejas que ele plantou em sua 2ª viagem missionária, por volta do ano 51 d.C. Nessa carta Paulo afirmou ao Filipenses que a satisfação em Cristo contribui para o crescimento do Evangelho.
Agora, veja o trecho de Fl 1.12-26. Nesse texto Paulo menciona sua prisão. O mais curioso é o entendimento de Paulo a respeito da dificuldade pela qual ele estava passando. O seu entendimento era que Deus usa as circunstâncias na vida do crente para o avanço do Evangelho. Em outras palavras, existe uma relação muito próxima entre lágrimas e avanço do Evangelho.
O apóstolo encarcerado em Roma identificou os resultados de sua prisão:
1- A guarda pretoriana e os demais ouviram o Evangelho – v. 13 (c.f Fl 4.22 – “todos os santos vos cumprimentam, principalmente os da casa de Cesar”).
2- Os irmãos foram encorajados a pregar a palavra do Senhor sem medo – v. 14.
3- Alguns pregavam com motivações erradas, mas Cristo estava sendo anunciado – v. 15-17.
Incrível! Deus, de maneira soberana, usou a insanidade de um imperador sádico como Nero, para o avanço do Evangelho.
Isso me diz que Deus, de forma graciosa, nos concede a fé para a salvação e nos da o privilégio de sofrer pelo Evangelho a fim de que este avance a despeito de nossa fragilidade. Nas palavras de John Piper:
“Deus determina que o sofrimento de seus embaixadores é um componente essencial no triunfo da propagação das boas-novas entre todos os povos do mundo”.[2]
Agora perceba que do v. 18 em diante, Paulo menciona sua reação diante do sofrimento da prisão. Paulo entendia que seu sofrimento contribuía para o avanço do Evangelho. Dessa forma, ele reagiu:
1- Com alegria – v.18 – Sua alegria estava no fato de que Cristo estava sendo anunciado.
2- Com expectativa – v.19,20 – Sua expectativa estava em que Cristo fosse engrandecido, seja na sua vida, ou morte.
3- Com convicção – v. 21-26 – Sua convicção era que sua vida era útil aos santos e sua morte era ganho para ele, porque ele iria se encontrar com Cristo.
Como é possível enfrentar as lágrimas sem que elas nos afoguem? Com o entendimento de que, de alguma forma, Deus as usará para que Cristo seja anunciado e, por fim, nos receberá em Seu Reino, onde não haverá mais pranto.
Me pergunto se não poderia ser diferente! Não teria sido melhor se minha esposa não tivesse sofrido os abortos naturais? Não teria sido melhor se tivéssemos os recursos para desenvolver os projetos que almejamos; se eu não tivesse sofrido tanta resistência à exposição das Escrituras? Não teria sido melhor se Bunyan, com todo o seu talento, tivesse tido maior liberdade para se desenvolver na escrita?
Diante do que Paulo disse aos Filipenses, acredito que pérolas como “O peregrino” só foram possíveis por conta da graça de Deus manifesta na vida de homens em muitas lágrimas. O livro “O Peregrino” é o livro mais lido em todo o mundo, depois da Bíblia. Na China, mesmo de maneira clandestina, chegou-se a produzir e distribuir 200 mil cópias. Tem servido de edificação e encorajamento para milhares de pessoas ao longo dos anos. Deus usa as aflições na vida do crente para o avanço do Evangelho!
pr. Nelson Galvão
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