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O cristão deve se envolver com política?

Atualizado: 1 de out. de 2024



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Chegamos a mais uma eleição! Durante esse período é comum refletirmos com mais intensidade a respeito de como o cristão deve se envolver com a política.

 

Temos visto de tudo! Vemos por um lado aqueles líderes religiosos midiáticos que se servem da política para seus próprios fins. Por outro lado, vemos também aqueles que se ausentam completamente de todo o processo político, a partir de uma cosmovisão dualista do sagrado/profano.

 

De fato, a relação entre Política e Religião é perigosa. É por isso que um dos princípios cardeais dos batistas é a separação entre Igreja e Estado.

 

Porém, preste bem atenção no princípio. Muitos o têm interpretado erroneamente. Ele afirma a separação entre Igreja e Estado, e não entre religião e política. O princípio afirma que a Igreja, como instituição, não deve interferir em assuntos do Estado (como a Igreja Católica fez durante toda a Idade Média); e o Estado, por sua vez, não deve interferir em assuntos da Igreja (como o fazem os Estados islâmicos e Estados totalitários).

 

Veja que o princípio se refere a separação entre Igreja e Estado e não à ausência do cristão na política. (para um entendimento mais acurado sobre essa relação recomendo a obra de Paul Freston: Religião E Política, Sim - Igreja e Estado, Não).

 

Bem, o contexto de nossos dias deve nos fazer lembrar do que a Palavra de Deus realmente tem a dizer sobre o assunto, sem que paixões (lulistas ou bolsonaristas) nos façam citar versículos fora de seu contexto para afirmar posições preestabelecidas.

 

Não é uma tarefa fácil! Mas, absolutamente necessária! Sendo assim, nesse curto espaço da pastoral da semana, proponho investirmos um tempo na reflexão das palavras de Jesus, conforme Mc 12.17:

 

“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

 

Então, vamos lá. A primeira pergunta que devemos fazer é: Em que contexto Jesus disse isso?

 

Ao se aproximar do tempo da crucificação de Cristo, seus opositores buscavam cada vez mais ocasião para apanhar Jesus em algum erro (Mc 12.13).

 

Foi com esse intuito que os fariseus e herodianos se apresentaram a Jesus e lhe fizeram a pergunta: “É correto pagar tributo a César, ou não?” (Mc 12.14).

 

Para entender essa pergunta precisamos considerar algumas coisas:

 

a.  Lembre-se que os judeus naquele momento estavam sob o domínio do império romano. Aquele tributo era um imposto cobrado pelo império romano a cada homem adulto da Judeia.

 

b.  Jesus pediu para que lhe trouxessem uma moeda e em seguida perguntou de quem era a inscrição (Mc 12.16). A moeda (denário) trazia a imagem do imperador. Na ocasião, o imperador era Tibério. De um lado, a moeda vinha com a imagem do imperador Tibério e a inscrição: TIBERIO CESAR AUGUSTO - FILHO DO DIVINO AUGUSTO. Do outro lado da moeda, o imperador estava retratado sentado em um trono, vestido com roupas de sumo sacerdote e usando um diadema. A inscrição era: SUMO SACERDOTE.

 

 

O imperador romano reclamava para si não somente autoridade política, mas também espiritual, se colocando como deus. O culto ao imperador havia se popularizado desde Claudio. O imperador Domiciano, por exemplo, na época da escrita de Apocalipse por João se auto intitulou “dominus et deus” (senhor e deus).

 

Então, foi nesse contexto que Jesus afirmou:

“Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”

 

Essa simples frase é de uma profundidade oceânica! Ela tem sido lembrada desde então ao longo da história, até mesmo por não cristãos.

 

O que Jesus disse com isso? Vejamos:

 

1- Dê a Cesar o que é de Cesar.

 

O tributo é devido e deve ser pago. Os romanos eram autoridade naquele momento e os cidadãos deveriam se submeter a eles.

 

É exatamente o que Paulo ensinou aos romanos (Rm 13). Toda a autoridade, inclusive a governamental, vem de Deus e tem o propósito específico determinado por Deus de zelar pela justiça, de punir e refrear o mal.

 

Sendo assim, devemos nos submeter a esta autoridade. Até porque o nosso compromisso diante do governo reflete nossa fé.

 

Diante dessa instrução de Jesus, deveríamos corar de vergonha quando vemos as corrupções mais comuns do chamado “jeitinho brasileiro”: sonegação de imposto; carteirinha de estudante falsificada; compra de CNH; pirataria; pagamento de "cafezinho para o guarda”; “gatonet”; aquele aparelhinho mágico que “abre todos os canais da TV a cabo”; casal que vive a anos como casado, mas não casa para não perder pensão do governo.

 

Pois é, diante disso fica a orientação de Jesus: “Dai a Cesar o que é de Cesar”.

 

Agora, vejamos uma outra implicação desse ensino de Jesus:

 

2- César não é Deus.

 

Jesus faz clara diferença entre César e Deus. Quando Jesus fez essa distinção entre César e Deus, Ele disse que as autoridades deviam ser obedecidas naquilo que tange a elas, mas Deus deve ser honrado naquilo que lhe é próprio, ou seja, em tudo, por que Ele sim, é Deus.

 

Acredito que Kuyper contribuiu muito para essa questão, com sua teoria das “esferas de soberania”. Segundo o teólogo holandês, Deus governa a vida e a sociedade, e não o Estado. Sendo assim, este não deveria interferir nas áreas que não lhe competem como: religião, família, ciência, arte e economia.

 

Ou seja, somente o que é devido a César deveria ser dado, dentro de sua área de atuação.

 

De tempos em tempos o Estado quer se colocar como deus, e se impor em áreas que não lhe pertence: família/casamento; educação de filhos; religião (vide o materialismo dialético de países de esquerda).

 

Dessa forma, no dia da eleição cuidado em apoiar candidatos que se identificam com a ideologia de esquerda que prega um Estado máximo e se propõe a controlar corações e mentes, interferindo em áreas que não lhe competem. Essa interferência tem ficado cada vez mais clara nas chamadas “pautas de costume”, conforme defendidas pelos partidos de esquerda.

 

Assim, como cristãos, temos o dever de participar da política sim, minimamente verificando se o candidato se posiciona claramente contra as pautas de esquerda, como:

 

·       a regulamentação da união civil homossexual;

·       a descriminalização do aborto;

·       a legalização das drogas;

·       a interferência do Estado na educação da família;

·       o cerceamento da liberdade de expressão

 

Isso nos leva a terceira questão:

 

3- Dê a Deus o que é de Deus.

 

Uma leitura descuidada nos faria entender que Jesus ensinou um dualismo absoluto entre Cesar e Deus. Mas, não é o caso. Não são duas forças iguais contrapostas entre si. Não! Jesus ensinou que Deus está acima de Cesar.

 

Cesar deve ser honrado, mas Deus deve ser temido! Assim, quando as ordens de Cesar se chocam com as de Deus, Cesar deve ser desobedecido. Esse é o princípio da “desobediência civil”. É o princípio que Pedro evocou diante do Sinédrio tempos depois:

 

 “29Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).

 

Diante disso, pergunto: Nós temos dado a honra que só Deus merece?

 

Em muitas ocasiões cedemos à tentação de dar a Cesar o que e de César e a Cesar o que é de Deus.

 

Fazemos isso quando:

 

a-   Flexibilizamos princípios bíblicos inegociáveis para apoiar o nosso candidato de estimação;

 

b-   Apoiamos políticos pragmáticos em seus conchavos, com vistas à pauta econômica; e isso em detrimento de pautas morais.

 

c-    Colocamos nossa esperança em governantes, quando deveria ser somente em Deus.

 

Temos a tentação de desprezar a esquerda por defender um Estado máximo, mas, por outro lado, podemos abraçar a igualmente condenável teologia do “ungido” que prolifera em muitos meios evangélicos e faz com que candidatos vão a cultos vociferar em nome de Deus e os fiéis ensandecidos, sob gritos de “aleluia”, colocar a esperança de dias melhores em sua mítica messiânica.

 

Dessa forma, entendo que o cristão tem o dever de se envolver com política, sim. Porém, isso deve ser feito à luz dos princípios das Escrituras.

 

Minha oração é para que em tempos tão conturbados como o que vivemos, que o Senhor nos dê a clareza para entender o que a Sua Palavra realmente diz, e a coragem necessária para sermos luz também na política.

 

 

pr. Nelson Galvão

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1 Comment


Francisco Fernando Silva
Francisco Fernando Silva
Oct 01, 2024

Sábias palavras!!!

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