Mais uma eleição se aproxima para escolhermos os nossos governantes. O que tem me chamado a atenção nesse pleito é a proximidade cada vez maior do palanque político com o púlpito. Bolsonaro chegou até mesmo a levar em sua comitiva o pr. Silas Malafaia para o velório da Rainha e para a Assembleia da ONU. Do lado oposto, em um comício do Lula, o ex-presidente da Convenção Batista Carioca declarou publicamente seu apoio ao presidenciável e chegou a dizer que a Igreja deveria pedir perdão.
O que está por trás dessas manifestações que estão cada vez mais presentes no evangelicalismo brasileiro? A resposta não é tão fácil, mas me permita sugerir um caminho: em um longo processo histórico, temos capitulado a um reducionismo de princípios cristãos inegociáveis de maneira que atendam ao pragmatismo de ideologias.
Me permita explicar melhor e para isso vou me valer de um conceito caro para Marx, "ideologia".
Para Karl Marx, “religião é o ópio do povo”. O alemão escreveu isso em sua introdução ao livro “Crítica da filosofia do direito de Hegel”.
Marx acreditava que existe uma luta de classes sociais em que de um lado está a burguesia (classe dominante) e, do outro lado encontra-se o proletariado (a classe explorada). Essa luta é desigual porque, embora a classe proletária seja em maior número, a classe burguesa tem os meios de produção que lhe dar o poder de exploração da mão-de-obra.
Diante da exploração da qual é vítima, o proletariado poderia rebelar-se e tomar o poder (revolução). Por que não o faz? (Aqui, então, Marx se utiliza de seu conceito de Ideologia). O operariado não imprime a revolução que o libertaria porque é preso pela forma de pensar da burguesia; ou seja, a ideologia.
Em outras palavras, para Marx, ideologias são conceitos e hábitos sociais falsos que são construídos pelas classes dominantes, com o intuito de entorpecer o operariado a ponto de impedir que ele se rebele. Essas ideologias são reproduzidas através da educação, da família e da religião (é por isso que governos marxistas no mundo inteiro têm perseguido o cristianismo e seus valores).
Diante disso, de acordo com Marx, é necessário um Estado totalitário que empregue a desconstrução da educação, da família e da religião. Assim, o proletariado precisa assumir o controle do Estado e, para isso, faz-se necessário a revolução.
Bem, levando em consideração o pensamento de Marx, pergunto: e se o próprio pensamento de Marx for uma ideologia? E se os conceitos e hábitos sociais judaico-cristãos são verdadeiros e o contraponto marxista for uma ideologia? E se a ideologia marxista liberta o proletariado para torná-lo em uma nova classe aristocrática que, por sua vez, oprimirá as classes dominadas? Diga-se de passagem que é só ver honestamente o que aconteceu em Cuba e Venezuela.
Que pena que Marx e os marxistas não conseguem ver a verdadeira revolução que transforma as relações de trabalho e família: Jesus Cristo! Não é uma classe social, um partido, o Estado, ou uma ideia. Estão entorpecidos com sua própria ideologia!
A verdadeira religião corresponde à realidade, à verdade; por isso o cristianismo bíblico não pode ser considerado uma ideologia, nem pode ser reduzido a qualquer que seja. Uma vez que a verdade vem à luz, o efeito não é de entorpecer, mas de libertar (Jo 8.32), de elucidar a realidade tal qual ela é. E que religião é essa? Ouça as palavras de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. (Jo 14.6 – grifo meu). A falsa religião entorpece, mas Cristo nos dá a verdadeira liberdade.
Isso posto acredito que o povo de Deus deva se posicionar politicamente sim, mas com mais sabedoria, levando especialmente em consideração a existência das ideologias, quaisquer que sejam.
Segue abaixo algumas sugestões de como lidar com as ideologias:
Elementos para um posicionamento cristão frente às ideologias.
1.Saiba que querendo ou não, de uma forma ou de outra, todos são afetados por ideologias;
2. Identifique as ideologias;
3. Analise-as a partir das Escrituras (não use as Escrituras para legitimar qualquer ideologia que seja).
4. Abra mão de sua ideologia em favor das Escrituras;
5. Posicione-se biblicamente e denuncie as distorções em todas as ideologias!
pr. Nelson Galvão
Sugestões de Leitura:
David T. Koyses. Visões e ilusões políticas. Vida Nova.
Herman Dooyeweerd. Estado e soberania. Vida Nova.
Franklin Ferreira. Contra a idolatria do Estado.Vida Nova.
Paul Freston. Religião e Política, sim. Igreja e Estado, não. Ultimato.
Wayne Grudem. Política segundo a Bíblia. Vida Nova.
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