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Comunismo na Bíblia?






A educação no Brasil está tomada pela ideologia comunista. Seja lá qual for o nível da educação (ensino básico ou superior), basta folhear rapidamente os livros didáticos para constatar que o Brasil há décadas tem sido doutrinado pela esquerda.

 

Eu mesmo fui doutrinado em minha jornada acadêmica. Mesmo professando a fé em Cristo, seja na gradução ou pós-graduação, tudo o que me debrucei a ler foi Karl Marx e seus herdeiros ideológicos. Isso me formou um conjunto de pressupostos que me fizeram ler as Escrituras a partir das lentes do Comunismo e, consequentemente, comprometeram minha compreensão acurada do que realmente a Bíblia diz.

 

Essa é a leitura que Norbeto Bobbio faz das Escrituras. Ele é um filósofo/sociólogo de esquerda que é tido como referência na Academia. Em seu conhecido dicionário de sociologia, no campo “Comunismo”, ele relaciona o Comunismo com o cristianismo. Ele diz o seguinte:

 

“É no âmbito da civilização cristã que florescem os primeiros ideais comunistas, dirigidos, não a cada grupo ou classe da população, mas a todos os homens. Nos Evangelhos não faltam passagens nas quais a riqueza é considerada má em si (Mateus, VI, 19-21) e os pobres são proclamados os únicos que poderão entrar no reino de Deus (Lucas, VI, 20); analogamente, em Marcos (X, 21,25) se afirma que é preciso despojar-se de tudo aquilo que se possui e dá-lo aos pobres, porque "é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus".[1]

 

Não tenho o interesse de fazer uma contraposição a Bobbio. Apenas o cito como ilustração de uma leitura evidentemente cheia de pressupostos das Escrituras que incide em uma compreensão muito distante da realidade do que o Texto Sagrado realmente está a dizer.

 

Isso é o que acontece em relação ao relato de Lucas sobre o que acontecia na Igreja de Jerusalém. Em At 2.44,45, lemos:

 

“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, e os repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um.”

 

Apressadamente, a partir dos pressupostos da Esquerda, essa narrativa tem sido usada como argumento a favor do Comunismo. Entretanto, quando olhamos para o texto com cuidado percebemos que não se trata disso. Vejamos:

 

1- No comunismo a partilha é imposta pelo Estado. Ao contrário disso, no texto vemos que a partilha se dava voluntariamente. Nem mesmo os apóstolos jamais constrangeram ninguém à se desfazer de seus bens (c.f At 5.1-11);

 

3- No comunismo, a propriedade privada e o ganho individual é rechaçado. Entretanto, na mesma narrativa vemos que eles “perseveravam de comum acordo todos os dias no templo, e partindo o pão em casa” (At 2.46). Ou seja, havia propriedade privada. Tinha gente que ainda tinha casa e podia receber os irmãos, e não era repreendido por isso. Basta ler o resto do livro de Atos para constatar isso.

 

4- Nessa narrativa da Igreja Primitiva de Jerusalém não está acontecendo distribuição de renda, mas auxílio a “necessitados” (v.45). O Comunismo diz: “se alguém tem uma Mercedes e eu tenho um fusca, então essa pessoa tem que vender a Mercedes e repartir comigo para que eu melhore meu carro”. Mas, a Bíblia não ensina isso.

 

A Bíblia ensina que:

 

A- Devemos estar contentes com o que temos e não invejar o que os outros têm (Fl 4.11);

 

B- Devemos trabalhar para ter o que precisamos. Já escrevi sobre isso na pastoral “A Igreja e os pobres”. A Lei de Moisés nos dá uma boa dica de como auxiliar os pobres: O dono do campo não deveria colher todo o produto da terra, mas deixar uma parte para o pobre fazer a colheita (Ex 23:11; Lv 19:10). Rute e Noemi foram beneficiadas por este princípio. A ideia é uma “Bolsa trabalho”; fornecer uma estrutura mínima para que o pobre trabalhe e assim tenha o subsídio básico para a sua subsistência. (Veja também: Pv 13.4; 21.25; Ef 4.28; 2 Ts 3.10);

 

C- A comunhão cristã pode se dar de tal maneira que posso me desfazer dos meus bens para ajudar alguém necessitado.

 

Mas, quem é o necessitado? Vejamos. A partilha era segundo a necessidade (χρείαν) de cada um. De que necessidade o texto está falando?

 

Lembre-se, a Bíblia orienta as pessoas a trabalharem para o seu sustento. Dessa forma, o auxílio deve ser dado quando algo acontece que impede o trabalho. A Bíblia menciona basicamente duas situações que levam as pessoas à ser impedidas de trabalhar e que, por isso, devem ser auxiliadas:

●   Doenças

●  Tragédias naturais e eventos/situações que fogem ao controle da pessoa (guerras, imigração, etc).

 

Dito isso, segue-se a pergunta: quem eram os necessitados de Jerusalém? Eram aqueles que estavam impedidos de trabalhar. Por quê? Acompanhe comigo:

 

A-   Lembre-se que os convertidos eram aqueles que tinham vindo de diversos países para a festa do Pentecostes (At 2.8-11);

B-   Estas pessoas deixaram suas casas e ocupações por um tempo específico para ir a Jerusalém;

C-  Com a pregação de Pedro e as conversões, eles decidiram ficar em Jerusalém mais tempo com a Igreja que nascera.

D-  Portanto, os necessitados de Jerusalém eram aqueles que se convertiam e, por isso, decidiam ficar em Jerusalém. Com isso, surgiam as necessidades.

E-   Essa ajuda não é AD eternum. Ela é pontual, específica, até que a pessoa se organize novamente.

F-   Mais a frente, vemos no livro de Atos que a situação iria se agravar quando viria a perseguição.

 

 

Então veja, os pobres não são encorajados a viver de bolsa família, ou bolsa igreja. Eles são encorajados a trabalhar. Sim, existem situações específicas que levam os crentes às necessidades especificas (doença, tragédia natural). Esses irmãos devem ser auxiliados pela Igreja. Mas não Ad Infinitum. Devem ser auxiliados até que essas necessidades sejam sanadas. Isso é feito na Igreja de Cristo de uma forma que jamais veremos em qualquer ideologia política: de maneira voluntária, espontânea, alegre e sacrificial. Quando isso acontece, o que fica patente não é a nossa visão política/econômica, mas Cristo em nós.

 

Perceba que quando os nossos pressupostos são superados, deixamos de impor nossos próprios pensamentos ao Texto Sagrado (Comunismo na Bíblia) e vemos com precisão o que o Texto realmente diz, e aí Cristo é exaltado e não a nossa ideologia.

 

Pr. Nelson Galvão


Referência


[1] Norbeto Bobbio. Dicionário de política. Ed. UNB. p. 204

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