
Sou de família evangélica. Cresci indo todos os domingos na EBD pela manhã e culto à noite. Durante a semana estava nos estudos bíblicos e culto de oração. Sem contar nos inúmeros encontros de confraternização, acampamentos, viagens missionárias, etc.
Depois de tanto tempo e experiencia na igreja cheguei a uma conclusão: A Igreja tem tudo para dar errado!
Digo isso por conta das diferenças que existem entre as pessoas. Enquanto as instituições são formadas por grupos de interesse e afinidade, a Igreja é constituída de gente pobre e rica, homens e mulheres, velhos e crianças, escolarizados e não escolarizados. Somos tão diferentes uns dos outros! Até mesmo em termos de gosto, competências, habilidades... enfim, muito diferentes!!!
O problema é que toda essa diferença naturalmente cria atritos, desgostos, dissabores, decepções. Os que gostam de uma música acompanhada por instrumentos eletrônicos, não se entendem com aqueles que amam música erudita. Existem aqueles que têm hábitos noturnos e preferem o culto da noite e não gostam do culto da manhã que é apreciado pelos que acordam cedo. Sem falar das diferenças entre estilos de roupa, corte de cabelo, comida ...
Enfim, as diferenças entre nós são uma realidade potencialmente destrutiva! É por isso que tem surgido tantas igrejas com públicos específicos: a igreja de jovens, a igreja de surfistas, os da classe média, etc. Afinal, é mais fácil atrair e lidar com iguais! Ou até isolar-se e curtir o “meu Jesus individual”, como no fenômeno moderno dos desigrejados.
Todavia, precisamos pensar: e se for exatamente esse o plano de Deus para a Igreja? Digo: e se esta heterogeneidade for justamente o que Deus planejou?
A Igreja é um milagre de Deus e não uma construção social! Foi Cristo que, com Seu sangue e ressurreição, edificou a Igreja. Sendo assim, a comunhão entre diferentes é uma realidade conquistada por Cristo.
Em sua carta aos Efésios, Paulo afirmou que não existe mais separação entre gentios e judeus, todos são um em Cristo (2:11-3:21).
Perceba que Paulo afirmou a ação de Deus para formar a comunhão na Igreja entre judeus e gentios (2.13-17):
a- “antes estáveis longe, fostes aproximados” (2.13);
b- “de ambos fez um” (2.14);
c- “Derribou a parede de separação que estava no meio, a inimizade” (2.15);
d- “Dos dois criou, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz” (2.16);
e- “Reconciliou ambos em um só corpo com Deus;
f- “Evangelizou paz aos que estavam longe e aos que estavam perto” (2.17).
Perceba ainda nos vs 13-17, como Deus formou a comunhão na Igreja: “em Cristo Jesus” (2.13); “pelo sangue de Cristo chegastes perto” (2.13); “ele é a nossa paz” (2.14); “na sua carne desfez a inimizade” (2.14); “para criar, em si mesmo” (2.15); “pela cruz” (2.16); “ele evangelizou” (2.17).
Ou seja, a comunhão na igreja é uma conquista do sangue de Cristo. É a confiança na morte e ressurreição de Cristo que nos une, e não um planejamento meticuloso no estímulo de grupos de afinidade!
O resultado da obra de Cristo está nos vs 19-22: Paulo refere-se à Igreja como: concidadãos, coerdeiros e coparticipantes da promessa; a família de Deus, um edifício, a morada de Deus e o corpo de Cristo.
Diante disso, entendo que a comunhão na heterogeneidade não é algo a ser alcançado; é realidade constitutiva da igreja. Faz parte da natureza da Igreja; portanto, deve ser celebrada e cuidadosamente mantida.
É exatamente por conta da comunhão, já existente na Igreja, que recebemos um telefonema de alguém tão diferente de nós dizendo que está orando; somos visitados em nossas enfermidades; somos ensinados uns pelos outros, encorajados, fortalecidos e exortados quando preciso.
Além disso, os dissabores resultantes das diferenças entre nós são usados por Deus para nos fazer crescer de acordo com o caráter de Cristo e como testemunho de que o Espírito Santo nos une, e não nossas afinidades.
Isso é incrível! Em meio ao hiper individualismo dos tempos modernos, onde as pessoas estão se matando de solidão em suas casas, Deus providenciou para os Seus filhos uma família, a Igreja. Então, celebremos a comunhão que Deus nos dá.
Você tem críticas? Eu também as tenho! Afinal, a Igreja tem tudo para dar errado! Mas lembre-se também que é exatamente nesse fato que o poder do Evangelho é manifesto na Igreja. Onde tudo poderia dar errado, Cristo através de Sua morte e ressureição transforma em celebração.
Então, em meio às diferenças, quero encorajar você a celebrar a bênção que Deus nos deu por meio de Seu Filho, a Igreja! Viva o Evangelho em meio àquelas pessoas que como você se submetem ao senhorio de Cristo, por meio de Sua Palavra, mas ainda assim têm gostos diferentes, histórias diferentes, modos diferentes de pensar política, economia e trabalho. Saia do isolamento, venha para a família de Deus, a Igreja.
Pr. Nelson Galvão
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